sexta-feira, 4 de março de 2011

O existir através do pensar - Por Osmar Maciel

Há algum tempo atrás, um grande amigo me fez uma pergunta bastante interessante:

_ Qual o correto: Penso, logo existo ou Existo, logo penso?

Imediatamente dei-lhe como resposta, hipotéticamente correta, a afirmativa: Penso, logo existo!

Primeiramente por analogia cartesiana, a qual estamos habituados a pensar e a usar como Ad modum de pesquisas e de correlação de idéias, valores etc, mas também pela já arraigada idéia de que a condição primeira do Ser Humano é o pensar e não o de existir. Ele não pensa porque existe, mas só sabe que existe porque pensa. A trivialidade do ser humano com os demais seres é o fato de que ele é. Tudo o que existe é, e o ser humano também é. Assim, basta ser para existir. Se fosse diferente o homem não passaria de mais um mero animal que vive pelo extinto, sem a menor consciência do seu "estar vivo".

“A existência corresponde à realidade singular, ao homem singular; ela (a existência) permanece fora do conceito que, de qualquer forma, não coincide com ela. Para um animal singular, uma planta singular, um homem singular, a existência (ser ou não ser) é algo decisivo” (Kierkegaard).

Mas há uma grande diferença no modo de ser. E no homem essa diferença é o pensar.

A vida do ser humano vai além do nascer, vai além do ser homem, porque a vida do homem é transcendência. Dessa forma inverte-se a polaridade do dualismo existir-ser e ser-existir.

Para o homem existir não basta ser. Existir impele-nos a transformar a nós mesmos em seres existentes através da transcendência.

“O ser humano é possibilidade, ele pode no seu ser ou escolher-se e conquistar-se, ou então perder-se, ou seja, não conquistar-se, ou conquistar-se só aparentemente., Sendo sempre eu, o poder-ser (humano) é livre para a autenticidade e a inautenticidade ou ainda para um modo de indiferença.” (Heidegger)

“A existência é movimento pelo qual o homem está no mundo, comprometendo-se numa situação física e social que se torna sua visão do mundo” (Merleau Ponty)

O próprio ser humano e a sua existência é um enigma, logo o inesperado faz parte deste enigma, como se a nossa existência espera por um segredo maior. O existir humano é uma construção, um desenvolvimento em si mesmo para um inesperado.

Portanto, para que isso se resolva e se encerre como a vertende do ser humano, sem o pensar essa existência e toda essa construção estaria perdida ou se tornaria sem efeito algum.

O ser humano vive num universo que é só seu. Tudo o que existe no exterior, ou seja, a partir da sua consciência, só existe porque ele o percebe, sente. E só existe nele, que percebe.

Quem nos dá a primazia do pensar é o cartesianismo quando sugere as técnicas e o modo de como manteremos o pensamento na dedução lógica, tomando coisas, seres e idéias pré-estabelecidas como parâmetros distintivos entre a natureza das diversas coisas existentes.

Essas idéias pré-estabelecidas ficam armazenadas em um mecanismo que chamamos de memória.

O Universo é infinito, fora da nossa capacidade conceptual. Concebemos apenas galáxias e sistemas, mediante alguma verificação e muita imaginação. Nossa Terra pertence a uma galáxia e a um sistema. No dimensionamento relativo, ela está para a galáxia como um grão de areia está para uma praia. No sistema, ela é um dos menores planetas. Em nosso planeta existe um processo biológico com base em partículas diminutas. Essas partículas se organizam em formas de vida que denominamos minerais, vegetais e animais. Dentre as muitas formas, a mais aperfeiçoada é o animal chamado Homem ou ser humano.

O Homem se caracteriza pela consciência que tem de si mesmo, que faz com que, através dos sentidos, tome consciência da existência de outras coisas além dele.

Só sabemos que existimos porque pensamos, porque sentimos o pensar e através dele construímos, destruímos e avançamos rumo ao desconhecido, usando nossa capacidade de especulação sobre nós e tudo que damos existência através do nosso pensar.

Algumas correntes de pensamento filosófico, tentam desmistificar a senteça estabelecida com a sua inversão: Existo, logo penso, mas qual o método que se usa para determiná-la? - Nada mais, nada menos que a própria tese cartesiana, que consiste no colocar a dúvida como ponto de partida para se verificar a validade do conhecimento.

Por fim, para testemunhar a teoria acima exposta, termino esse tró-ló-ló, expondo a vocês, leitores, esse pensar magnífico de um exemplar dessa espécie que chamados Ser humano, que nos mostra como é fácil a contradição quando, sinceramente, nos empenhamos em não estarmos simplismente, mas sermos decisivamente...!

Oxímoro

É a tua desleal lealdade
Neste platônico amor carnal
Que me assusta calmamente
Ante a deslealdade leal
De meu coração racional
Em contínuo e pacífico conflito
Com minha sórdida higiênica mente.

Até tento involuntariamente
(Verdadeira mentira)
Escapar permanentemente
Desta impudica vergonha
Desta razão emocional (jamais sentimental)
Que me deixa palidamente encarnado.

Que me curva erecto órgão
Principal personagem coadjuvante
Da mais antiga Epopéia vulgar
Ao final (possível lumiar de uma vida)
A alegria infeliz de um ermitão
Em solitária companhia

Dupla vida? Dupla personalidade? - me perguntas
Múltiplas e única - hei de responder
Humano, demasiado homem
Um equânime desigual
Privado de uma louca sensatez
O oximoro diuturno da vez.

(Por Luiz Bernardes...)

Um comentário:

  1. Boa noite, Osmar!
    Vim agradecer a visita e o belo comentário que você deixou.
    Aqui, no teu blog, tem belas palavras, sempre estarei por aqui...
    Obrigada
    Abraço!

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