segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Loucura e Obsessão



No aprofundado estudo da etiopatogenia da loucura, não se pode mais descartar as incidências da obsessão, ou predomínio exercido pelos Espíritos desencarnados sobre os homens.
Constituindo o mundo pulsante além da vida material, eles se movimentam e agem conforme a natureza evolutiva que os caracteriza.
Tendo-se em vista o estágio atual de crescimento moral da Terra e daqueles que a habitam, o intercâmbio entre as mentes que se encontram na mesma faixa de interesse é muito maior do que um observador menos cuidadoso e menos preparado pode imaginar.
Atraindo-se pelos gostos e aspirações, vinculando-se mediante afetos doentios, sustentando laços de desequilíbrio decorrente do ódio, assinalados pelas paixões inferiores que lhes concedem as respostas equivalentes, resultando variadíssimas alienções de natureza obsessiva.
Longe de negar a loucura e as causas detectadas pelos nobres pesquisadores do passado e do presente, o Espiritismo as confirma, nelas reconhecendo mecanismos necessários para o estabelecimento de matrizes, através das quais a degenerescência da personalidade ocorre, nas múltiplas expressões em que se apresenta.
Assinalamos, com base na experiência dos fatos, que nos episódios da loucura, ora epidêmica, a obsessão merece um capítulo especial, requerendo a consideração dos estudiosos, que poderão defrontar com extraordinário campo para a investigação profunda da alma, bem como do comportamento humano.
De Guilherme Griesinger a Kraepelin, a Breuler, Desde Pinel a Freud, de Ladislaus Von Meduna a Sakel, a Kalinovsky, a Adolf Meyer, passando por toda uma elite de cientistas da psique, sem nos esquecermos de Charcot e Wundt, largos passos foram dados com segurança para a compreensão da loucura, suas causas, sua terapêutica, abrindo-se espaços para os modernos psiquiatras, psicólogos e psicanalistas.
Não obstante, a doença mental permanece como um grande desafio para todos aqueles que se empenham na compreensão da sua gênese, sintomatologia e conduta...
Allan Kardec, porém, foi o extraordinário psicoterapeuta que melhor aprofundou a sonda da investigação no desprezado capítulo das obsessões, demonstrando que nem toda expressão de loucura significa morbidez e descontrole dos órgãos encarregados do equilíbrio psicofísico dos homens, com vinculações de natureza hereditária, psicossocial, etc...
Demonstrou que o Espírito é o herdeiro de si mesmo, dos seus atos anteriores, que lhe plasmam o destino futuro, do qual não se logra evadir.
Provando que a morte biológica não aniquila a vida, facultou ao entendimento a penetração e a solução de verdadeiros enigmas desafiadores, que passavam, genericamente, como sendo formas de loucura, loucura, certamente, que são, porém, de natureza diversa do conceito acadêmico conhecido.
Em razão disso, o Homem não pode ser examinado parcialmente, como um conjunto de osso, nervos e sangue, tampouco na acepção tradicional dualista, de alma e corpo, mas, sob o aspecto pleno e total de Espírito, perispírito e matéria...
Através do Espírito participa da realidade eterna; pelo perispírito vincula-se ao corpo e, graças ao corpo, vive no mundo material.
É o perispírito o órgão intermediário pelo qual experimenta a influência dos demais Espíritos, que pululam em sua volta aguardando o momento próprio para o intercâmbio em que se comprazem.
Quando estes Espíritos são maus e encontram guarida que as dívidas morais agasalham na futura vítima, aí nascem as obsessões, a princípio sutis, quase despercebidas, para, logo depois, se agigantarem, assumindo a gravidade das subjugações lamentáveis, e, às vezes, irreversíveis...
Quando são bons, exercem a salutar interferência inspirativa junto àqueles que lhes proporcionam sintonia, elevando-os às cumeadas da esperança, do amor, e facultando-lhes o progresso bem como a conquista da felicidade.
O conhecimento do Espiritismo propicia os recursos para a educação moral do indivíduo, ensinando-lhe a terapia preventiva contra as obsessões, assim também, a cura salutar, quando o processo já se encontra instalado.
Mesmo nos casos em que reconhecemos a presença da loucura nos seus moldes clássicos, deparamo-nos sempre com um Espírito, em si mesmo doente, que plasmou um organismo próprio para redimir-se, corrigindo antigas viciações e crimes que, ocultos ou conhecidos, lhe pesam na economia moral, exigindo liberação.
Kierkegaard, o filósofo dinamarquês, em uma conceituação audaciosa, afirmou que “louco é todo aquele que perdeu tudo, menos a razão”, enfocando o direito que desfruta o alienado mental, de qualquer tipo, a um tratamento digno, tendo sua razão para encontrar-se enfermo.
Nos comportamentos obsessivos, as técnicas de atendimento ao paciente, além de exigirem o conhecimento da enfermidade espiritual, impõe ao atendente outros valores preciosos que noutras áreas da saúde mental não são vitais, embora a importância de que se revestem. São eles: a conduta moral superior do terapeuta – o doutrinador encarregado da desobsessão -, bem como do paciente, quando este não se encontre inconsciente do problema; a habilidade afetuosa de que se deve revestir, jamais esquecendo do agente desencadeador do distúrbio, que é, igualmente, enfermo, vítima desditosa, que procura tomar a justiça nas mãos; o contributo das suas forças mentais, dirigidas a ambos litigantes da pugna infeliz; a aplicação correta das energias e vibrações defluentes da oração ungida de fé e amor; o preparo emocional para entender e amar tanto o hóspede estranho e invisível, quanto o hospedeiro impertinente e desgastante no vaivém das recidivas e desmandos...
A cura das obsessões, conforme ocorre no caso da loucura, é de difícil curso e nem sempre rápida, estando a depender de múltiplos fatores, especialmente, da renovação, para melhor, do paciente, que deve envidar esforços máximos para granjear a simpatia daquele que o persegue, adquirindo mérito através da ação pelo bem desinteressado em favor do próximo, o que, em última análise, torna-se em benefício pessoal.
Vulgarizando-se a loucura como a obsessão, cada vez mais, e ora em caráter epidemiológico, faze-se necessário, mais generalizado e urgente, um maior conhecimento da terapia desobsessiva, desde que a psiquiátrica se encontra nas hábeis mãos dos profissionais sinceramente interessados em estancá-la.
Texto extraído do Livro " Loucura e Obsessão" , De Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, FEB, 1986.

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