sexta-feira, 4 de março de 2011

O existir através do pensar - Por Osmar Maciel

Há algum tempo atrás, um grande amigo me fez uma pergunta bastante interessante:

_ Qual o correto: Penso, logo existo ou Existo, logo penso?

Imediatamente dei-lhe como resposta, hipotéticamente correta, a afirmativa: Penso, logo existo!

Primeiramente por analogia cartesiana, a qual estamos habituados a pensar e a usar como Ad modum de pesquisas e de correlação de idéias, valores etc, mas também pela já arraigada idéia de que a condição primeira do Ser Humano é o pensar e não o de existir. Ele não pensa porque existe, mas só sabe que existe porque pensa. A trivialidade do ser humano com os demais seres é o fato de que ele é. Tudo o que existe é, e o ser humano também é. Assim, basta ser para existir. Se fosse diferente o homem não passaria de mais um mero animal que vive pelo extinto, sem a menor consciência do seu "estar vivo".

“A existência corresponde à realidade singular, ao homem singular; ela (a existência) permanece fora do conceito que, de qualquer forma, não coincide com ela. Para um animal singular, uma planta singular, um homem singular, a existência (ser ou não ser) é algo decisivo” (Kierkegaard).

Mas há uma grande diferença no modo de ser. E no homem essa diferença é o pensar.

A vida do ser humano vai além do nascer, vai além do ser homem, porque a vida do homem é transcendência. Dessa forma inverte-se a polaridade do dualismo existir-ser e ser-existir.

Para o homem existir não basta ser. Existir impele-nos a transformar a nós mesmos em seres existentes através da transcendência.

“O ser humano é possibilidade, ele pode no seu ser ou escolher-se e conquistar-se, ou então perder-se, ou seja, não conquistar-se, ou conquistar-se só aparentemente., Sendo sempre eu, o poder-ser (humano) é livre para a autenticidade e a inautenticidade ou ainda para um modo de indiferença.” (Heidegger)

“A existência é movimento pelo qual o homem está no mundo, comprometendo-se numa situação física e social que se torna sua visão do mundo” (Merleau Ponty)

O próprio ser humano e a sua existência é um enigma, logo o inesperado faz parte deste enigma, como se a nossa existência espera por um segredo maior. O existir humano é uma construção, um desenvolvimento em si mesmo para um inesperado.

Portanto, para que isso se resolva e se encerre como a vertende do ser humano, sem o pensar essa existência e toda essa construção estaria perdida ou se tornaria sem efeito algum.

O ser humano vive num universo que é só seu. Tudo o que existe no exterior, ou seja, a partir da sua consciência, só existe porque ele o percebe, sente. E só existe nele, que percebe.

Quem nos dá a primazia do pensar é o cartesianismo quando sugere as técnicas e o modo de como manteremos o pensamento na dedução lógica, tomando coisas, seres e idéias pré-estabelecidas como parâmetros distintivos entre a natureza das diversas coisas existentes.

Essas idéias pré-estabelecidas ficam armazenadas em um mecanismo que chamamos de memória.

O Universo é infinito, fora da nossa capacidade conceptual. Concebemos apenas galáxias e sistemas, mediante alguma verificação e muita imaginação. Nossa Terra pertence a uma galáxia e a um sistema. No dimensionamento relativo, ela está para a galáxia como um grão de areia está para uma praia. No sistema, ela é um dos menores planetas. Em nosso planeta existe um processo biológico com base em partículas diminutas. Essas partículas se organizam em formas de vida que denominamos minerais, vegetais e animais. Dentre as muitas formas, a mais aperfeiçoada é o animal chamado Homem ou ser humano.

O Homem se caracteriza pela consciência que tem de si mesmo, que faz com que, através dos sentidos, tome consciência da existência de outras coisas além dele.

Só sabemos que existimos porque pensamos, porque sentimos o pensar e através dele construímos, destruímos e avançamos rumo ao desconhecido, usando nossa capacidade de especulação sobre nós e tudo que damos existência através do nosso pensar.

Algumas correntes de pensamento filosófico, tentam desmistificar a senteça estabelecida com a sua inversão: Existo, logo penso, mas qual o método que se usa para determiná-la? - Nada mais, nada menos que a própria tese cartesiana, que consiste no colocar a dúvida como ponto de partida para se verificar a validade do conhecimento.

Por fim, para testemunhar a teoria acima exposta, termino esse tró-ló-ló, expondo a vocês, leitores, esse pensar magnífico de um exemplar dessa espécie que chamados Ser humano, que nos mostra como é fácil a contradição quando, sinceramente, nos empenhamos em não estarmos simplismente, mas sermos decisivamente...!

Oxímoro

É a tua desleal lealdade
Neste platônico amor carnal
Que me assusta calmamente
Ante a deslealdade leal
De meu coração racional
Em contínuo e pacífico conflito
Com minha sórdida higiênica mente.

Até tento involuntariamente
(Verdadeira mentira)
Escapar permanentemente
Desta impudica vergonha
Desta razão emocional (jamais sentimental)
Que me deixa palidamente encarnado.

Que me curva erecto órgão
Principal personagem coadjuvante
Da mais antiga Epopéia vulgar
Ao final (possível lumiar de uma vida)
A alegria infeliz de um ermitão
Em solitária companhia

Dupla vida? Dupla personalidade? - me perguntas
Múltiplas e única - hei de responder
Humano, demasiado homem
Um equânime desigual
Privado de uma louca sensatez
O oximoro diuturno da vez.

(Por Luiz Bernardes...)

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Loucura e Obsessão



No aprofundado estudo da etiopatogenia da loucura, não se pode mais descartar as incidências da obsessão, ou predomínio exercido pelos Espíritos desencarnados sobre os homens.
Constituindo o mundo pulsante além da vida material, eles se movimentam e agem conforme a natureza evolutiva que os caracteriza.
Tendo-se em vista o estágio atual de crescimento moral da Terra e daqueles que a habitam, o intercâmbio entre as mentes que se encontram na mesma faixa de interesse é muito maior do que um observador menos cuidadoso e menos preparado pode imaginar.
Atraindo-se pelos gostos e aspirações, vinculando-se mediante afetos doentios, sustentando laços de desequilíbrio decorrente do ódio, assinalados pelas paixões inferiores que lhes concedem as respostas equivalentes, resultando variadíssimas alienções de natureza obsessiva.
Longe de negar a loucura e as causas detectadas pelos nobres pesquisadores do passado e do presente, o Espiritismo as confirma, nelas reconhecendo mecanismos necessários para o estabelecimento de matrizes, através das quais a degenerescência da personalidade ocorre, nas múltiplas expressões em que se apresenta.
Assinalamos, com base na experiência dos fatos, que nos episódios da loucura, ora epidêmica, a obsessão merece um capítulo especial, requerendo a consideração dos estudiosos, que poderão defrontar com extraordinário campo para a investigação profunda da alma, bem como do comportamento humano.
De Guilherme Griesinger a Kraepelin, a Breuler, Desde Pinel a Freud, de Ladislaus Von Meduna a Sakel, a Kalinovsky, a Adolf Meyer, passando por toda uma elite de cientistas da psique, sem nos esquecermos de Charcot e Wundt, largos passos foram dados com segurança para a compreensão da loucura, suas causas, sua terapêutica, abrindo-se espaços para os modernos psiquiatras, psicólogos e psicanalistas.
Não obstante, a doença mental permanece como um grande desafio para todos aqueles que se empenham na compreensão da sua gênese, sintomatologia e conduta...
Allan Kardec, porém, foi o extraordinário psicoterapeuta que melhor aprofundou a sonda da investigação no desprezado capítulo das obsessões, demonstrando que nem toda expressão de loucura significa morbidez e descontrole dos órgãos encarregados do equilíbrio psicofísico dos homens, com vinculações de natureza hereditária, psicossocial, etc...
Demonstrou que o Espírito é o herdeiro de si mesmo, dos seus atos anteriores, que lhe plasmam o destino futuro, do qual não se logra evadir.
Provando que a morte biológica não aniquila a vida, facultou ao entendimento a penetração e a solução de verdadeiros enigmas desafiadores, que passavam, genericamente, como sendo formas de loucura, loucura, certamente, que são, porém, de natureza diversa do conceito acadêmico conhecido.
Em razão disso, o Homem não pode ser examinado parcialmente, como um conjunto de osso, nervos e sangue, tampouco na acepção tradicional dualista, de alma e corpo, mas, sob o aspecto pleno e total de Espírito, perispírito e matéria...
Através do Espírito participa da realidade eterna; pelo perispírito vincula-se ao corpo e, graças ao corpo, vive no mundo material.
É o perispírito o órgão intermediário pelo qual experimenta a influência dos demais Espíritos, que pululam em sua volta aguardando o momento próprio para o intercâmbio em que se comprazem.
Quando estes Espíritos são maus e encontram guarida que as dívidas morais agasalham na futura vítima, aí nascem as obsessões, a princípio sutis, quase despercebidas, para, logo depois, se agigantarem, assumindo a gravidade das subjugações lamentáveis, e, às vezes, irreversíveis...
Quando são bons, exercem a salutar interferência inspirativa junto àqueles que lhes proporcionam sintonia, elevando-os às cumeadas da esperança, do amor, e facultando-lhes o progresso bem como a conquista da felicidade.
O conhecimento do Espiritismo propicia os recursos para a educação moral do indivíduo, ensinando-lhe a terapia preventiva contra as obsessões, assim também, a cura salutar, quando o processo já se encontra instalado.
Mesmo nos casos em que reconhecemos a presença da loucura nos seus moldes clássicos, deparamo-nos sempre com um Espírito, em si mesmo doente, que plasmou um organismo próprio para redimir-se, corrigindo antigas viciações e crimes que, ocultos ou conhecidos, lhe pesam na economia moral, exigindo liberação.
Kierkegaard, o filósofo dinamarquês, em uma conceituação audaciosa, afirmou que “louco é todo aquele que perdeu tudo, menos a razão”, enfocando o direito que desfruta o alienado mental, de qualquer tipo, a um tratamento digno, tendo sua razão para encontrar-se enfermo.
Nos comportamentos obsessivos, as técnicas de atendimento ao paciente, além de exigirem o conhecimento da enfermidade espiritual, impõe ao atendente outros valores preciosos que noutras áreas da saúde mental não são vitais, embora a importância de que se revestem. São eles: a conduta moral superior do terapeuta – o doutrinador encarregado da desobsessão -, bem como do paciente, quando este não se encontre inconsciente do problema; a habilidade afetuosa de que se deve revestir, jamais esquecendo do agente desencadeador do distúrbio, que é, igualmente, enfermo, vítima desditosa, que procura tomar a justiça nas mãos; o contributo das suas forças mentais, dirigidas a ambos litigantes da pugna infeliz; a aplicação correta das energias e vibrações defluentes da oração ungida de fé e amor; o preparo emocional para entender e amar tanto o hóspede estranho e invisível, quanto o hospedeiro impertinente e desgastante no vaivém das recidivas e desmandos...
A cura das obsessões, conforme ocorre no caso da loucura, é de difícil curso e nem sempre rápida, estando a depender de múltiplos fatores, especialmente, da renovação, para melhor, do paciente, que deve envidar esforços máximos para granjear a simpatia daquele que o persegue, adquirindo mérito através da ação pelo bem desinteressado em favor do próximo, o que, em última análise, torna-se em benefício pessoal.
Vulgarizando-se a loucura como a obsessão, cada vez mais, e ora em caráter epidemiológico, faze-se necessário, mais generalizado e urgente, um maior conhecimento da terapia desobsessiva, desde que a psiquiátrica se encontra nas hábeis mãos dos profissionais sinceramente interessados em estancá-la.
Texto extraído do Livro " Loucura e Obsessão" , De Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Manoel Philomeno de Miranda, FEB, 1986.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Utopia



Significado filosófico: Que não existe em lugar algum; descrição de uma sociedade ideal; refere-se a um ideal de vida proposto. Pode ser também a expressão da esperança, pois, graças ao projeto utópico – como antecipação teórica daquilo que “ ainda-não-é” -, torna-se possível criar condições para a reforma social. No sentido pejorativo, refere-se ao ideal irrealizável.

Falar de utopia, em filosofia, seria como falar de fé em religião.

Segundo as definições dadas ao termo, principalmente em filosofia, é dizer daquilo que não existe em um lugar espacialmente definido, ou invertendo as posições do pensador, falar de um lugar que não existe espacialmente, pretendendo dotá-lo de uma qualidade que não a possua.

O imaginário das utopias clássicas, diante da expansão marítima e comercial vivida nesse período, dá a tônica e o tema, propriamente dito, ao novo estilo filosófico-literário, inaugurado por Thomas More, que o usa não só para tentar estabelecer um novo sistema social, como dá impulso à própria expansão territorial, dando uma direção para o descobrimento, conhecimento e formação social de um “Novo Mundo”.

Imaginado um mundo novo, More, idealiza Utopia, bem distante da faixa do globo ocupado pela civilização humana no século XVI, mas com uma estreita ligação com o continente já habitado de maneira bem deficiente e inteiramente dominado por uma classe elitizada da sociedade vigente. Além do que a expansão territorial era a idéia central dos governantes desde os tempos mais remotos, tentando ampliar suas fronteiras e riquezas, conquistando novas faixas de terra do planeta. Na época de More, a terra era a principal fonte de riqueza e trazia consigo também poder e status.

A descrição da Ilha é feita com base numa comparação com a Inglaterra do seu tempo, que tem uma função de negativo. È perfeitamente possível entender Utopia como uma anti-Inglaterra. A Inglaterra de More não é mais medieval, os valores não são mais exatamente os da nobreza, embora muito ainda reste dessa época. A singularidade da Inglaterra, onde a nobreza mais cedo começou a perder poder, permite entender porque é tão forte a crítica de More à propriedade privada.

Na sociedade inglesa a essa época já era tênue a linha que distingue burguesia e nobreza. Era muito fácil a ascensão à nobreza de um burguês rico ou a um nobre adquirir as práticas de um burguês. Com isso, haveria mudança drástica, também, não só na construção do conhecimento, como na obtenção do mesmo por uma maior parte da sociedade, tendo todos, o direito à educação de forma eficiente e totalitária.

Thomas More escreveu uma obra onde descreve uma sociedade que entende como melhor que aquela onde vivia. Isso todos sabem. O próprio nome da ilha acaba corroborando essa concepção geral de que Utopia é considerada como o local onde se encontraria a sociedade ideal, e sendo ideal inalcançável. Mas embora o nome da ilha indique que esta exista em um lugar nenhum, ela é situada geograficamente na América, no novo mundo. Ela não é colocada num lugar imaginário, num lugar espiritual, ou num lugar perdido. A ilha existiria no novo continente, sendo então possível fazer a viagem para lá. E é exatamente o que fez Rafael Hitlodeu, o viajante do qual supostamente More ouviu falar da ilha. Por sinal, idoso e sábio, Rafael Hitlodeu representa o rei filósofo de Platão. Essa localização no Novo Mundo está ligada a idéia da esperança de um novo tempo, de uma nova era para o homem, que é o Renascimento e o Humanismo.

A descoberta de uma nova terra trazia consigo uma nova chance, isto é, para os insatisfeitos com o mundo europeu, a possibilidade tanto de encontrar uma nova civilização melhor, quanto um novo lugar para experimentar. O Humanismo do autor estava fazendo um grande rompimento com a idade média, não estava interessado na promessa de uma recompensa no além, no espírito, está preocupado com o mundo físico, com o mundo temporal. Um dos maiores méritos do livro Thomas More foi deslocar o Paraíso para o mundo real.

Constantemente é sugerido por More que Hitlodeu compartilhe sua sabedoria com os reis, fazendo parte de algum Conselho de Estado. Este sempre nega e argumenta com base na crença (experiência ?) de que seus conselhos nunca seriam ouvidos. Hitlodeu, ou melhor More acredita que uma mudança na sociedade não poderá ser feita a partir da vontade das classe no poder num gesto de filantropia. Ao contrário do que acontece em Utopia, um mundo ideal onde um grande patrono, Utopos, reformou a ilha e a tornou na sociedade perfeita, More sabia o que aconteceu com Platão. More queria que a jornada em direção a Utopia fosse feita pelos que estavam insatisfeitos com o mundo como era.

A mudança teria de ser feita de baixo, não pelo povo, mas pelos sábios conduzindo o povo, sem a ajuda dos poderosos. More tinha bem claro que os beneficiários da sociedade em que vivia nunca iriam querer mudar para uma sociedade igualitária e iriam se opor a qualquer tentativa de fazê-lo. Uma mudança no mundo deveria ser preparada cuidadosamente, e divulgada secretamente pelos sábios que a encabeçariam, até que chegasse o momento de bradá-la para os inimigos

A proposta de uma sociedade planejada, trazida por More, embora use da ironia destilada à classe dominante da sua Inglaterra e de outros sistemas totalitários da época, tem suas conseqüências. Como ponto positivo anota a igualdade entre todos, quando nenhum indivíduo da sociedade sairia prejudicado naquilo que ela oferece, mas é bastante “utópico”, esse sistema, pois os governantes serão sempre uma classe distinta dentro de qualquer das sociedades que se venha forma.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A Filosofia pode nos conduzir à felicidade?

Leia a resposta do filósofo André Comte-Sponville a seguir.

Filosofar é pensar sua vida e viver seu pensamento. Em que medida isso pode nos aproximar da felicidade? Ficando mais perto da verdade, nós nos libertamos de várias ilusões e esperanças tolas. Isso nos ajuda a amar a vida mais do que amar a felicidade, a verdade mais do que a fantasia, o amor mais do que a fé ou a esperança. Os maiores mestres são, a meu ver, Epicuro (de Samos, filósofo grego dos séculos IV e III a.C.), (Michel) Montaigne (filósofo francês do século XVI) e (Baruch) Spinoza (filósofo holandês do século XVII). Quanto a mim, já me expliquei longamente em meu Tratado do Desespero e da Beatitude e, de maneira mais resumida, em Felicidade, Desesperadamente.
...
Tudo depende do que se entende por felicidade. Se você busca uma alegria contínua e soberana, ou mesmo a ausência total de sofrimento e angústia, certamente nunca será feliz. "Toda vida é sofrimento", dizia Buda. E tinha razão. A felicidade, se a entendemos como uma alegria completa, é apenas um sonho, que nos separa do contentamento verdadeiro. Em busca da felicidade absoluta, nós nos proibimos de viver as felicidades relativas e nos tornamos infelizes. Se, ao contrário, você entender como felicidade o fato de não ser infeliz ou simplesmente de poder desfrutar algumas alegrias, a felicidade não é impossível. E você será feliz somente por não ser triste. À exceção, claro, nos momentos mais difíceis da vida.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A arte da dúvida

Quando se trata de pensamento, poucas pessoas se entregam mais do que os filósofos.

Segundo Aristóteles, a razão distingue os homens dos animais.

Platão dizia que só atingimos a virtude por meio do uso da razão.

Já para Tomás de Aquino, a razão está para o homem como Deus está para o universo.

Também Sócrates, pouco antes de ser condenado à morte pelos atenienses empedernidos, traduziu a sua crença de que uma vida privada de exame racional não vale a pena ser vivida.

Falar de “razão” e não citar René Descartes, o pai da filosofia moderna, é impossível. Foi ele quem mais valorizou a razão, criando, a partir de conclusões, Cogito ergo Sun, o sistema filosófico mais usado em toda a história da filosofia, porém só sistematizado e ordenado a partir da modernidade por Descartes: O Cartesianismo. Por ele, outros filósofos renomados elevaram a razão tema predileto e favorito para o desencadeamento e desenvolvimento de suas doutrinas.

Emanuel Kant, a meu ver, foi o principal desses filósofos que, usando as bases do Cartesianismo e do Cogito, idealizou a fenomenologia, que fora desenvolvida e sistematizada, mais tarde, por Martin Heidegger e Edmund Husserl.

Theodor W. Adorno e Max Horkheimer, há 50 anos, publicaram um célebre livro, Dialética do Esclarecimento*, onde procuram, de maneira exemplar, o desenvolvimento de uma crítica mais abrangente do próprio conceito de razão. O fio condutor do texto é a exposição das contradições inerentes ao conceito de esclarecimento e a reflexão sobre seus desdobramentos históricos. O objetivo do Esclarecimento sempre foi o de “livrar os homens do medo e investi-los na posição de senhores”.

No confronto primordial com a natureza ameaçadora, o Esclarecimento deu início ao desencadeamento do mundo, buscando assegurar, pelo uso da razão, a conservação da espécie.

Isso tudo não quer dizer que os filósofos sejam os únicos a pensar.

Sempre estamos envolvidos em processos mentais muito semelhantes aos que ocupam os filósofos. Estamos, constantemente, procurando entender, procurando explicações e atribuindo causas. Porém, os filósofos quando se ocupam desses processos, o fazem com um extremo rigor dos critérios que utilizam antes de aceitar a verdade de qualquer coisa.

Quando a filosofia surgiu na Grécia antiga, opunha-se à fonte tradicional de explicações do mundo – a religião popular.

Enquanto ditavam as pessoas o que deviam crer, a religião não lhes oferecia razões logicamente fundamentadas para tanto. As opiniões viviam à custa da confiança – uma forma irracional, ao menos aos olhos dos filósofos, para quem não podia haver pecado maior do que a crença irrefletida na sabedoria tradicional.

Isso leva a uma conseqüência: a sensação de sabermos muito menos do que imaginávamos saber – ponto de partida da sabedoria filosófica, a menos na visão de Sócrates, o maior questionador da história da filosofia. Sócrates passou a vida propondo a si mesmo questões básicas para as quais seus concidadãos petulantes pensavam já ter as respostas – questões como “que é virtude?”, “como devemos viver”? e “que é sabedoria?”.

Mas ele não se contentava em questionar, ele se preocupava antes de tudo em definir caminhos para chegar respostas válidas. Para Sócrates as pessoas pensavam de modo confuso porque lhes faltava um método de pensar: como não começam a discussão por um consenso sobre o uso dos termos, o resultado natural é que, conforme avançam caem em contradições e mal-entendidos.

Ao passo que o pensamento filosófico voltava-se para a construção de argumentos a partir dos fundamentos mais sólidos e buscava inspiração na geometria.

Admirava-se a geometria por sua capacidade de transitar de uns poucos axiomas básicos à dedução de verdades mais abrangentes. A lógica filosófica teve seu pioneiro em Aristóteles, que foi o primeiro a usar letras no domínio do pensamento formal – como, por exemplo, na fórmula lógica segunda a qual, se A é predicado de todo e qualquer B, e B de todo e qualquer C, então necessariamente A é predicado de todo e qualquer C. A lógica testa a pretensão de verdade de enunciados como “todos os brasileiros são mortais”, decompondo-o em dois enunciados mais simples – “todos os brasileiros são seres humanos” e “todos os seres humanos são mortais”” – e recompondo a conclusão – “todos os brasileiros são mortais” -, que pode não ser surpreendente, mas ao menos ilustra o funcionamento do método filosófico em seu nível mais básico.

Talvez seja melhor definir a filosofia menos a partir dos seus temas do que a partir do método de investigação lógica, do seu modo de pensar: lógico, silogístico e axiomático.

Muitas áreas da ciência que se tornaram disciplinas independentes começaram como ramos da filosofia: até o século passado, os cursos universitários de física eram chamados de “filosofia natural”. Não obstante, no curso de sua longa história, houve cinco áreas em que se concentrou a atenção dos praticantes da filosofia: epistemologia, ética, teoria política, estética e filosofia da religião.

Foi provavelmente o primeiro desses ramos que mais afastou pessoas da filosofia. Esperando encontrar certo número de sugestões úteis sobre como viver, estudantes de primeiro ano dão de encontro com um curso de epistemologia, o ramo da filosofia que lida com a Teoria do Conhecimento. Uma de suas questões-chave é a fonte de nossos conhecimentos. Os racionalistas (como Platão e Descartes) argumentam que idéias intrínsecas à mente humana são as únicas fontes do conhecimento, enquanto os empiristas (Locke e Hume) afirmam que os sentidos são a fonte primária das nossas idéias e do nosso conhecimento. Essa ordem de preocupações pode parecer abstrata, em especial quando o debate se concentra na natureza da linguagem (a linguagem nos oferece uma imagem correta do mundo, qual a relação entre palavras e coisas?), mas a epistemologia permanece como centro vital de toda a empresa filosófica.

Pois antes que possamos nos perguntar como devemos viver, a epistemologia cabeça-dura insiste em investigar antes de tudo como a linguagem nos permite formular tais questões. È para a ética que devemos nos voltar se quisermos auxílio em nossas preocupações mais cotidianas. Todas as escolas de filosofia na Grécia na Roma helenística – ou seja, os epicuristas, os céticos e os estóicos – acreditavam que a filosofia devia tratar dos problemas mais penosos da existência humana – a morte, o amor, a sexualidade e o ódio.

Epicuro dizia ser inútil qualquer argumento filosófico que não trate terapeuticamente o sofrimento humano. Pois, assim como de nada serve a medicina senão expulsar a doença do corpo, do mesmo modo é inútil a filosofia que não expulsar o sofrimento da mente.

Diante de alguém preocupado com a morte, o epicurista decerto decomporia o problema em suas partes constituintes e argumentaria que só devemos temer o que nos causa dor. Uma vez mortos, não temos que temer a dor ou o prazer; logo, não a razão lógica para temer a morte. O homem que verdadeiramente compreendeu que não há nada de terrível em cessar de viver não tem mais nada de terrível a temer – concluía Epicuro.

Sendo assim, fala tolamente quem diz temer a morte, pois esta não causa dor quando finalmente sobrevêm; tão-somente sua antevisão pode causar dor.

Examinando os argumentos filosóficos para uma vida conforme a razão, há que mencionar uma importante contracorrente da filosofia ocidental, que argumenta contra a razão e exalta a fé ou o instinto. Longe de nos ajudar a resolver problemas, a razão é apontada como causa maior deles. Santo Agostinho escreveu com desdém sobre as teorias com as quais os homens tentaram alcançar a felicidade em meio à miséria desta vida – e aconselhava a submissão à vontade divina. E, ao rejeitar as pretensões do Iluminismo, Rousseau afirmaria que o pensamento corrompe nossos instintos naturais e positivos: ele imaginou um filósofo que, ao testemunhar da sua janela um assassinato na rua, não precisaria de muito raciocínio para evitar que sua natureza se identificasse com a vítima infeliz.

Estamos longe da fé socrática numa vida racional, sendo que a única ironia está em que este chamado a desconfiar dos filósofos parte de mais filósofo!

Se o pensamento é a ferramenta básica da filosofia, temos ainda que examinar quais usos os vários filósofos destinam a ela. Portanto, a condição fundamental do ser humano é o pensamento, ou seja, todo mundo pensa, mas como? Qual método seguir? O que é apenas outra maneira de perguntar: Como, afinal, devemos viver? Qual é a boa vida? Onde está a virtude?

Vamos usar, mais uma vez o método cartesiano. A Dúvida metódica.

*Dialética do Esclarecimento – Fragmentos filosóficos – Theodor W. Adorno e Max

Horkheimer. Trad. Guido A. de Almeida. Jorge Zahar Editor.


Por Osmar Maciel – 07/02/98.


sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Sigmund Freud


Introdução

Freud nasceu em Freiberg, Tchecoslováquia, no ano de1856. Este grande nome da psicanálise foi o responsável pela revolução no estudo da mente humana.

Biografia

Formado em medicina e especializado em tratamentos para doentes mentais, ele criou uma nova teoria. Esta estabelecia que as pessoas que ficavam com a mente doente eram aquelas que não colocavam seus sentimentos para fora. Segundo Freud, este tipo de pessoa tinha a capacidade de fechar de tal maneira esses sentimentos dentro de sua mente, que, após algum tempo, esqueciam-se da existência.

Teoria e métodos

A partir de sua teoria, este grande psicanalista resolveu tratar esses casos através da interpretação dos sonhos das pessoas e também através do método da associação livre, neste último ele fazia com que seus pacientes falassem qualquer coisa que lhes viessem à cabeça.

Com este método ele era capaz de desvendar os sentimentos “reprimidos", ou seja, aqueles sentimentos que seus pacientes guardavam somente para si, após desvendá-los ele os estimulava a colocarem esses sentimentos para fora. Desta forma ele conseguiu curar muitas doenças mentais.

Livros

Freud escreveu um grande número de livros importantes, alguns deles foram: Psicologia da Vida Cotidiana, Totem e Tabu, A interpretação dos sonhos, O Ego e o Id e muitos outros. Neles, o “pai da psicanálise” (assim conhecido por ter inventado o termo “psicanálise” para seu método de tratar das doenças mentais) responsabilizava a repressão da sociedade daquela época, que não permitia a satisfação de alguns sentimentos, considerando-os errados do ponto de vista social e religioso.

Segundo ele, o sexo era um dos sentimentos reprimidos mais importantes. Naquela época essa afirmação gerou um grande escândalo na sociedade, entretanto, não demorou muito para que outros psicólogos aderissem à idéia de Freud. Alguns deles foram: Carl Jung, Reich, Rank e outros.