sábado, 5 de setembro de 2009

Tempo, espaço, movimento, lugar.




   Segundo Spinoza, o espaço e o tempo são "determinações essenciais" do Ser primitivo e também as coisas que dependem desse Ser não são substâncias, mas acidentes que lhe são inerentes.
   Para Kant, o espaço e o tempo são formas puras da intuição sensível, elementos apriorísticos do conhecimento, sob o aspecto da sensibilidade. Não são adquiridos através da experiência, ou por abstração dos dados vários da sensibilidade. São a priori. Espaço e tempo são formas apriorísticas, mediante as quais a sensibilidade percebe os objetos. O espaço é a forma do sentido externo; o tempo é a forma do sentido interno.
   Desse modo, tudo o que percebemos pela sensibilidade é situado no espaço e no tempo; não podemos eliminar nem o espaço nem o tempo, na percepção sensível. Podemos, até, subtrair os objetos do espaço e os acontecimentos do tempo, mas não podemos afastar a intuição do espaço e do tempo para deixar apenas os objetos e os acontecimentos.
   Tudo o que a experiência nos fornece deve necessariamente ser enquadrado no tempo e no espaço: sem as formas apriorísticas do espaço e do tempo não há experiência possível.
   Quando os modernos filósofos ocidentais dizem que as coisas estão no tempo, como estão no espaço e, que nada pode pensar-se fora do espaço e do tempo, como Descartes e Kant, apenas imaginam uma Segunda espacialidade, que acrescetam à espacialidade baseada nos costumes, no habitual. O tempo seria, diria eu, uma quarta dimensão do espaço. Mas, o tempo não pode ser medido, nem contado, nem dividido. Dividir o tempo seria como dividir as águas de um rio. O tempo é um acontecimento do espaço.
   Na sua fenomenologia, Edmund Hesserl, faz uma distinção entre o tempo fenomenológico do tempo objetivo(cósmico). Segundo ele, como o cosmos, o tempo objetivo é colocado entre parênteses. Colocado o tempo objetivo entre parênteses, resta a temporalidade pura, imanente à consciência, que é um presente como retenção do passado e projeção para o futuro. O tempo que, por essência, pertence ao vivido como tal - com os diferentes modos sob os quais se apresenta - não pode ser medido pela posição do sol, pela hora ou por outro meio físico, pela razão muito simples de que não é mensurável.
   O tempo cósmico está para o tempo fenomenológico em uma relaçao análoga ao que é a extensão que se refere à essência imanente de um conteúdo concreto de sensação com relação à extensão espacial objetiva, isto é, a extensão física do objeto físico que aparece e que se esboça visualmente nesse "datum" de sensação.
   O espaço é o lugar onde se encontra algum objeto. O espaço é o lugar onde eu estou neste momento, onde esta tinta que escreve estes "conceitos" ocupam nesta página.
   Para Heidegger, se, enquanto preocupar-se com o mundo, vendo em torno, pode o "ser-aí" trasladar, separar e colocar é apenas porque ao seu "ser-no-mundo" é inerente o espacializar, compreendido como existenciário. Nem o espaço está no sujeito, nem o mundo está no espaço. Antes, o espaço está "no" mundo, enquanto o "ser-no-mundo", constituído do "ser-aí", que abriu um espaço. Portanto, segundo a teoria, o espaço só existe pela existência do ser. O espaço não se encontra no sujeito, (não é a priori), nem este contempla o mundo como se fosse no espaço, mas o sejeito ontologicamente bem compreendido, o "ser-aí", é "espacial". Por ser o "ser-aí" "espacial" é que se manifesta o espaço como um a priori.
   A essência do "ser-aí" é a existência. O fundamento ontológico da existencialidade do "ser-aí" é a "temporalidade". O conceito tradicional de tempo brota da compreensão quotidianamente vulgar do tempo como um "contar". O conceito vulgar do tempo desmembra-o em passado, presente e futuro. Esse tempo é o tempo cósmico ou cronológico, o tempo da publicidade, do calendário e do relógio. O tempo autêntico, o tempo original, ignora a sucessão: o futuro não é mais tarde que o passado e este não é mais cedo que o presente; a temporalidade "temporiza-se" como futuro "sendo-sido" e constituindo-se em presente.
   Dá-se obviamente, por conta disso, que se o "ser-aí" heidegeriano não existisse, não existira nem espaço, nem tempo e nem mundo.
   Em todo tempo o homem era, é e será, porque o tempo só se temporiza enquanto o homem é.
   Através da Dialética do eterno presente, Lavele vem, também, dizer sobre a temporalidade, esclarecendo que o ser é eterno, não existindo nele qualquer intervalo entre sua possibilidade e sua atualidade. Isto é, para lavele, o ser é em si ato e portanto, sempre atual. Sua eternidade é a de um presente a que nada falta e que jamais pode falhar. Ele é eterno porque antes de atualizar-se, já existia potencialmente através da essência. Ao contrário, a existência implica temporalidade. O tempo é o intervalo que a separa do ser e é o único meio de que dispõe para criar-se a si mesma, isto é, para assinalar sua própria possibilidade, afim de atualizá-la. A possibilidade necessita do porvir para ficar situada antes de penetrar no presente em que se realiza e depois no passado em que está realizada: o tempo é apenas a condição de atualização da possibilidade, isto é, do exercício da liberdade - é a lei da existência. O tempo é o momento apropriado para que uma coisa se realize.
   Portanto, apenas a existência está inserta no tempo: o ser está acima, embora o contenha - o que se exprime dizendo que é eterno; a realidade está abaixo, embora nele entre como um instante que em si não teria passado nem futuro.
   Nos dias atuais, onde a velocidade nos atropela no dia a dia, onde está o nosso tempo? O que fazemos dele? Qual a consciência que temos dele?
   Para fechar este ensaio, elegemos o grande filósofo Henri Bergson, que tomando a grande discussão dos gênios da antiguidade grega, Heráclito e Parmênides, que a tudo deram origem, a respeito do movimento. Bergson diz que, a duração se mede pela trajetória de um móvel e que o tempo matemático é uma linha. Mas, a linha que se mede é imóvel, ao passo que o tempo é mobilidade. A linha é feita, o tempo é o que se faz e mesmo o que faz com que tudo se faça. Jamais a medida do tempo incide sobre a duração como duração: conta-se apenas um certo número de extremidades de intervalos, ou momentos, isto é, paradas virtuais no tempo.
   Quando a ciência positiva fala no tempo, refere-se ao movimento de certo móvel T sobre uma trajetória: este movimento foi escolhido como representativo do tempo e é imóvel por definição. Não se cuida do fluxo do tempo e de seu efeito sobre a consciência.
   Bergson, aí, encontra a duração interior pura, continuidade que não é unidade nem multiplicidade. A ciencia desinteressara-se por esta duração. Até Spencer, que manteve uma doutrina evolucionista feita para seguir orela na sua mobilidade, não deu importância para essa duração, assim como todos os outros sistemas filosóficos colocaram tempo e espaço no mesmo plano e os consideraram como coisas do mesmo gênero: Estuda-se o espaço e, depois, transportam-se para o tempo as conclusões obtidas; para passar do espaço ao tempo, à filosofia, era bastantesubstituir a palavra "justaposição" pelo vocábulo "sucessão".
   Tínhamos apenas o tempo espacializado. Não é necessário relembrar os argumentos de Zenão de Eléia: todos eles implicam a confusão do movimento com o espaço percorrido, ou ao menos a convicção de que se pode tratar o movimento como se trata o espaço, dividi-lo sem considerar suas articulações
   A prórpia estrutura do entendimento humano mascara a duração, quer no movimento, quer na modificação. No movimento, a inteligência retém apenas uam série de posições, negligenciando a transição: a duração do movimento decompõe-se em momentos do tempo e as posições do móvel são instantâneos tomados por nosso entendimento sobre a continuidade do movimento e da duração.
   O que é real não são os "estados", mas o fluxo, a continuidade de transição, a modificação em si, modificação indivisível e substancial.
   O movimento é o ato de mudar de lugar, é a deslocação do móvel numa linha, é a evolução, é a marcha dos corpos celeste, do homem, da vida, das idéias, da filosofia...

Por Osmar Maciel..23/08/2003.

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